segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

E o mundo vai ficando careta...

E o mundo fica mais careta hoje.

O mundo ficou órfão. A frase "Ninguém é insubstituível" não faz o menor sentido quando o assunto é David Bowie.

A história dele você encontra nos sites, nos livros, no mundo. Não preciso citar tudo que ele fez. E, nem cabe em um único post.

Quero simplesmente agradecer a contribuição do gênio David Bowie.

Em 1986 foi lançado o filme Labirinto. E, neste filme, foi a primeira vez que eu vi David Bowie. Simplesmente apaixonante. Decorei as falas, as músicas, e foi durante muito tempo meu filme favorito. Lembro que fazia contas para saber em qual idade eu poderia casar com ele. Coisas infantis que não esqueço. Bowie foi minha primeira paixão platônica.

Já na adolescência, ele apareceu no livro Christiane F. Lia o livro sempre ao som de David Bowie, nada combinava mais com aquele livro.

Durante anos, nos bares do bairro do Bixiga, dancei com bandas covers "Let´s dance". Era uma das minhas favoritas para dançar até cansar.

Em 1997, não vi Bowie. Chorei, me joguei no chão, mas nada convenceu. Sem grana, e sem muita idade. Bowie passou, e eu não vi. Mil chibatadas no lombo por isso.

O show da minha banda favorita, U2, começou com Space Oddity. Todos os pelos dos braços, pernas e demais lugares arrepiaram-se. Uma canção que me dá calafrios toda vez que toca.

Bowie pra mim sempre foi o submundo. Letras que traduziam sentimentos confusos e profundos.
Um grito de liberdade num mundo bem careta e moralista. Androgenia em tempos que as pessoas querem se afirmar. Sem afirmação, e tão presente. Em sua confusão, éramos parceiros. Ele traduziu durante muitos anos da minha vida os meus sentimentos.
Sempre houve uma letra do Bowie que representasse exatamente um momento importante.

Lembro de uma noite no interior de São Paulo em que eu dizia "Meu sonho é correr pelada no meio do mato. Correr pra lugar algum. Correr, correr, correr. Por nada, só correr". Coisas bizarras de uma juventude esquisitamente bem aproveitada.
E, em uma noite de lua, não tive dúvidas. Pedi para pararem o carro, deixei minha roupa lá dentro e sai correndo.
E, enquanto eu corria no escuro - sim, um pouco alterada - pensava "We can be heroes!". E cantei essa música como se não houvesse amanhã. Sentimento de liberdade tremenda. Sem sentido algum. Ninguém é herói por correr pelado. Mas naquele momento em que faz algo inusitado, sem pensar, a sensação é de que "We can be heros just for one day..."

Fiz mais dessas bizarrices ao som de Bowie. Acho que muitas das coisas bacanas que fiz, propositalmente, fiz questão que ele fosse a trilha sonora. Porque ele sempre significou liberdade.

Obrigada, gênio. Fico agradecida pelo legado que você deixou. E saiba que ainda ouvirei muito suas músicas, e espero que elas façam parte de muitos outros momentos da minha vida.
Se eu casar, o trato ainda continua de pé. Vai tocar Bowie.