sábado, 9 de agosto de 2014

Paulo

Às vezes tenho vergonha de dizer que faço trabalho voluntário. São as crianças que fazem um belo trabalho voluntário comigo.
Desde o começo do ano, dedico algumas horas da minha vida às crianças de um abrigo aqui de São Paulo. O trabalho é estimular nessas crianças a vontade de querer ler e escrever.
No meu grupo tem um menino de 9 anos chamado Paulo. O Paulo tem uma dificuldade gigante com o mundo das letras, mas é um profundo conhecedor da vida, mesmo aos 9 anos de idade.

Essa semana ele resolveu me sabatinar sobre os motivos, razões e pormenores de eu ser quem eu sou.

- Tia, você mora sozinha?
- Sim, moro.
- E você acha legal?
- Sim.
- E como você faz quando assiste filmes de terror?
- Como assim?
- Quando você fica com medo, tia. O que você faz?

Fiquei um minuto em silêncio buscando uma resposta para aquela pergunta. O que eu faço quando tenho medo? De verdade não soube responder assim de bate e pronto.
Não tive dúvidas, abracei o Paulo.

- Você abraça quando tem medo, tia?
- Sim, eu abraço.
- Está com medo agora, então?

Abracei mais forte. E ele desistiu de me testar. Percebeu que não teria resposta.

Acho que sim, Paulo. Quando tenho medo, abraço as pessoas que amo. E você, sem querer, já se tornou uma delas.
Os medos mudam com a idade. Eu não tenho mais medo de filmes de terror. Na verdade nem os assisto mais, talvez por não ter vencido o medo. Então, Paulo, eu fujo quando tenho medo.  Ou eu busco refúgio nas pessoas que amo. Forte é você, que perdeu os que amava, e ainda assim tem carinho para dar, vender, emprestar, dividir, multiplicar, e tudo que se possa imaginar.

E cada dia que passo ao lado das crianças, sinto que o trabalho voluntário que elas fazem comigo tem dado resultado.