sábado, 8 de setembro de 2012

Frescor

Ontem eu ouvi alguém  falar em frescor da juventude. Usar esta expressão é tão velho quanto tomar biotônico Fontoura. E quando se fala em juventude, tudo é fácil. Mas quando o assunto é infância, ninguém mais lembra o que se passou neste remoto tempo. Acredito que de 20 em 20 anos o cérebro faz uma varredura de arquivos, e vai apagando as coisas. A culpa não é nossa, é do anti-vírus. O meu anti-vírus está com defeito. Lembro de coisas da infância como se fosse ontem. Mas se me perguntarem o que eu comi ontem, dificilmente vou lembrar.

A infância teve gosto de chiclete bola Ploc e chocolate surpresa. E já não sei mais se as histórias que lembro ocorreram, ou se eu com a minha fantástica imaginação de criança, as inventei para fazer da vida algo mais saboroso. Este é o segredo de Tostines.

Voltando ao frescor. Eu acho que cada idade tem o seu frescor. Se bem que eu desconfio que a adolescência não tem muito, mas tem. A Adolescência é a fase em que o ser humano vira ermitão de si mesmo. O mundo não existe. Todos estão errados. Todos querem foder com a gente.

E visto que cada idade tem o seu frescor. O meu maior frescor aconteceu na infância. Decidido. Se hoje me perguntassem qual idade eu queria ter, responderia sem titubear, 7 anos (no máximo). As joaninhas sentem falta de mim. Eu tinha uma comunidade de joaninhas. Uma comunidade secreta onde eu montava parques de diversões, estradas, cachoeiras, e tudo que minha imaginação permitia criar em miniatura para a colônia das joaninhas. Eu andava pela rua balançando a minha maria chiquinha com determinação de quem sabe das coisas. Eu olhava para as pessoas. Me indignava com o morador de rua, e achava que minha mãe deveria levá-los para a nossa casa. Qualquer cobertor entre duas cadeiras era motivo para uma grande aventura no acampamento. Eu fazia arte com comida, pintava com a convicção de que era artista, falava eu te amo como quem diz bom dia. Não tinha medo do lobo mau, e me sentia princesa. E com as princesas, nada acontece.

Pra mim, frescor não tem nada a ver com pele, beleza, sorrisos brancos e hálito puro (Kolynos)!
Frescor são ideias frescas, sem preconceitos, é saber ouvir, e não se achar dono do universo nem da verdade absoluta. Frescor tem a ver com ideias, definitivamente. Frescor tem a ver com manter a coluna ereta, mente quieta e coração tranquilo. E isso acontece em qualquer idade.