domingo, 10 de agosto de 2008

Escreveu

Deitada em seu sofá de barriga para baixo e pés para cima. Ao som o melhor de Aretha Frankin.
As canetas eram coloridas. A cada frase mudava de cor. E em pouco tempo tinha escrito o seu dia. Dia este que durou 24 horas, mas que levou apenas 12 minutos para ser escrito.

Falou sobre o tempo, sobre as sensações, sobre seus medos, planos, fatos, tudo em 25 linhas.

A vida resumida tinha uma certa graça. Se a vida pudesse ser editada...
Tirava-se aquele momento em que o chefe a chamou de incompetente, aumentaria o tempo em que ficou ao lado daquele carinha bonitinho do décimo andar, alterava-se o figurino. Afinal de contas, ela não estava vestida com o seu melhor modelito naquele momento.
Edita-se o barulho de escritório, e coloca-se uma bela balada romântica. Perfeição.

O diálogo poderia ser mais obsceno. Caras, bocas, sorrisos, sensação de vermelhidão no rosto quando ele elogiava seu cabelo.

Pensou em editar seu diário. Escrever coisas realmente interessantes. Adicionar um pouco mais de tempero em suas histórias. Terminá-las de uma forma que ela se desse bem no final, sempre.
As mocinhas vivem felizes para sempre. Ela era mocinha, tinha este direito.

Depois de tantos devaneios, ateve-se ao fato de que não valia a pena mentir daquela forma para ela mesma. Mais valia a realidade sem graça, do que uma mentira suntuosa.

Fechou o diário e foi dançar, sozinha. Girou, girou, gritou, cantou, e por alguns minutos se sentiu a pessoa mais feliz do mundo.

No dia seguinte queria contar histórias verdadeiras e felizes. E como autora, e personagem principal, tinha este direito. 25 linhas seria pouco demais para o dia seguinte.